
Brasília transformou o Dia da Independência em um espetáculo de autopromoção governamental. Sob o slogan “Brasil Soberano”, o desfile na Esplanada dos Ministérios foi menos celebração cívica e mais encenação política, com direito a bonés distribuídos em massa, prédios iluminados como se fossem outdoors e discursos embalados por marketing institucional.
O presidente Lula surgiu em carro oficial como parte da coreografia, cercado por ministros, enquanto o público, estimado em cerca de 25 mil pessoas segundo a imprensa, assistia a tropas marchando, pelotões escolares coreografados e à Esquadrilha da Fumaça, em uma estética pensada para televisão e redes sociais.
No plano simbólico, a festa reforçou a velha fórmula de usar o patriotismo como verniz para crises políticas e diplomáticas.
O tema “soberania” soava irônico diante da recente tensão com os Estados Unidos, mas funcionou como palavra mágica para encobrir desgastes internos.
Não houve novidade: os tradicionais tanques, cavalarias e pirâmides humanas repetiram a liturgia de poder, enquanto a população se dispersava com a sensação de ter assistido a um espetáculo vazio.
Enquanto isso, na Praça Zumbi dos Palmares, o Grito dos Excluídos lembrou que fora da encenação oficial há um país real, com gente que luta por democracia, meio ambiente e sobrevivência cotidiana. Mas essa parte, como sempre, ficou fora da transmissão oficial.
O resultado foi um 7 de Setembro com muito teatro, pouco civismo e nenhuma resposta concreta para os problemas que corroem a tal “soberania” alardeada.
O desfile em Brasília reafirmou a tradição: mais um feriado nacional sequestrado pelo marketing de ocasião.